Passa.
Um mínimo de descuido,
qualquer vacilo,
e a vida passa.
Segue adiante
e o tempo
afasta
esmaece
confunde
distorce
apaga
memórias e sentimentos.
Como um trem
avança...
e a cada parada,
a lembrança das últimas.
E as mais distantes
se perderam.
Onde? Quando?
Por quais lugares passei?
Quem era eu, então?
E "ses" e "porques" preenchem
todo o vazio que se sente.
E o novo
perde o frescor e o encanto
e é visto como efêmero.
Dá-se um valor ao passado
que já não lhe pertence.
E, embora viver o momento
pareça óbvio
e fundamental,
perde-se tempo demais
olhando para trás.
Então, quando não se imagina,
parte o trem.
Não espera,
não considera.
Acelera
levando-nos
com nossos sonhos
e frustrações,
conquistas e melancolias,
arrependimentos
e decisões.
À frente, não se sabe.
Nada se vê.
Onde?
Quando?
Outra estação.
E renova-se a angústia de viver.