quinta-feira, 30 de setembro de 2010

mais que mil palavras...

(imagem: Ben Heine - sempre ele!)

"A Palavra", Rubem Braga

Tanto que tenho falado, tanto que tenho escrito - como não imaginar que, sem querer, feri alguém? Às vezes sinto, numa pessoa que acabo de conhecer, uma hostilidade surda, ou uma reticência de mágoas. Imprudente ofício é este, de viver em voz alta.

Às vezes, também a gente tem o consolo de saber que alguma coisa que se disse por acaso ajudou alguém a se reconciliar consigo mesmo ou com a sua vida de cada dia; a sonhar um pouco, a sentir uma vontade de fazer alguma coisa boa.

Agora sei que outro dia eu disse uma palavra que fez bem a alguém. Nunca saberei que palavra foi; deve ter sido alguma frase espontânea e distraída que eu disse com naturalidade porque senti no momento - e depois esqueci.

Tenho uma amiga que certa vez ganhou um canário, e o canário não cantava. Deram-lhe receitas para fazer o canário cantar; que falasse com ele, cantarolasse, batesse alguma coisa ao piano; que pusesse a gaiola perto quando trabalhasse em sua máquina de costura; que arranjasse para lhe fazer companhia, algum tempo, outro canário cantador; até mesmo que ligasse o rádio um pouco alto durante uma transmissão de jogo de futebol... mas o canário não cantava.

Um dia a minha amiga estava sozinha em casa, distraída, e assobiou uma pequena frase melódica de Beethoven - e o canário começou a cantar alegremente. Haveria alguma secreta ligação entre a alma do velho artista morto e o pequeno pássaro cor de ouro?

Alguma coisa que eu disse distraído - talvez palavras de algum poeta antigo - foi despertar melodias esquecidas dentro da alma de alguém. Foi como se a gente soubesse que de repente, num reino muito distante, uma princesa muito triste tivesse sorrido. E isso fizesse bem ao coração do povo, iluminasse um pouco as suas pobres choupanas e as suas remotas esperanças.

sábado, 25 de setembro de 2010

Escape

Como em todas as vezes, tem algumas palavras que não são ditas, que ficam aqui comigo.
Não sei porque não as digo... talvez por não ter tempo.
Ou talvez porque mesmo que tivesse todos os minutos da eternidade, ainda não seria suficiente pra falar do meu amor por você.

Então eu as guardo, e me pergunto se algum dia você chegará a conhecê-las.
Se um dia terei tempo de dizer tudo...

E eu espero. Espero com o olhar fixo, lá, bem distante... e o coração batento disritmado no peito.
E a cada descompasso, mais amor.
E cada instante que passa leva consigo um pouco dessa angústia, dessa ansiedade.
E leva também um pouco do tempo.

Eu não sei por que caminhos vão me levar estes meus passos, tampouco conheço os ares pelos quais estas palavras vão voar.
Eu só quero que te alcancem...
Em qualquer lugar do mundo onde estejas, mais do que tudo, eu quero estar também, junto contigo.

Quero ter sua mão na minha, algum dia.
E quem sabe, talvez, para sempre.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

"Quase Sem Querer" (Legião Urbana)

Tenho andado distraído
Impaciente e indeciso
E ainda estou confuso
Só que agora é diferente
Estou tão tranqüilo
E tão contente...

Quantas chances desperdicei
Quando o que eu mais queria
Era provar pra todo o mundo
Que eu não precisava
Provar nada pra ninguém

Me fiz em mil pedaços
Pra você juntar
E queria sempre achar
Explicação pro que eu sentia
Como um anjo caído
Fiz questão de esquecer
Que mentir pra si mesmo
É sempre a pior mentira

Mas não sou mais
Tão criança
A ponto de saber tudo...

Já não me preocupo
Se eu não sei por que
Às vezes o que eu vejo
Quase ninguém vê

E eu sei que você sabe
Quase sem querer
Que eu vejo
O mesmo que você...

Tão correto e tão bonito
O infinito é realmente
Um dos deuses mais lindos
Sei que às vezes uso
Palavras repetidas
Mas quais são as palavras
Que nunca são ditas?

Me disseram que você
Estava chorando
E foi então que eu percebi
Como lhe quero tanto...

Já não me preocupo
Se eu não sei por que
Às vezes o que eu vejo
Quase ninguém vê

E eu sei que você sabe
Quase sem querer
Que eu quero
O mesmo que você..

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

É primavera...

"Mudaram as estações... nada mudou.
Mas eu sei que alguma coisa aconteceu.
Tá tudo assim, tão diferente."

Primavera chegando...
Tantos sonhos renascendo! E mais tantos outros, novos em folha! Novos em flor...

A primavera chega amanhã, mas já preparo minha alma para as cores novas, pro cheiro de terra molhada de orvalho, pra brisa fresca... chega desse inverno!
Chega de frio e do peso dos casacos que fecham a gente aqui, do lado de dentro...
O sol convida a sair, de vestido florido e descalça, pra caminhar na grama verde, que acaba de brotar! Ops! "Não pise na grama", diz a placa!! ahahahaha!!
São cheiros de tantas flores diferentes no ar... mas eu ainda sinto a falta de um perfume especial, que me preenche de um jeito mais profundo... só que com essas cores todas, o calor e os sons de pássaros que eu, há muito, não percebia, eu não consigo mais ser triste! Alguém consegue?

Primavera sempre traz coisas novas, coisas boas. Renascemos junto com as borboletas. Renascemos tão mudados quanto elas, depois de um longo tempo dentro de nós mesmos. E saímos do casulo com sorrisos e sentimentos bonitos para enfeitar a vida...

O mundo inteiro está ficando mais colorido esta semana, mesmo que a primavera seja só aqui.
Ou será que são só meus olhos, meu coração, que estão enxergando tudo mais alegre?
Alegre e colorido como um carnaval...

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

(Imagem: Ben Heine)

"A saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar."
Rubem Alves

"Saudade é melhor do que caminhar vazio"
Peninha

"Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche."
Martha Medeiros

"Também temos saudade do que não existiu, e dói bastante."
Carlos Drummond de Andrade

"Saudade é solidão acompanhada, é quando o amor ainda não foi embora, mas o amado já..."
Pablo Neruda

"De longe te hei de amar,
- da tranquila distância
em que o amor é saudade
e o desejo a constância."
Cecília Meirelles



terça-feira, 7 de setembro de 2010

Dia da Independência

Engraçado como a vida é...

Quando eu paro pra pensar na pessoa que sou hoje, eu tenho certeza de que jamais poderia me imaginar assim, há tempos atrás. O futuro é algo que a gente realmente não pode conceber... eu me diria assim, tão como sou? Eu nunca vi essa pessoa antes! E se eu não tivesse parado ao longo dos anos pra olhar bem seriamente pra dentro de mim, com certeza hoje eu poderia até pensar que aquele eu, que eu fui, pegou uma curva pra outras bandas e esse alguém-aqui usurpou o seu lugar!

Enquanto o passado, esse às vezes me assusta. Tantas certezas e planos que se perdem pelo caminho, que se alteram... que me alteram... Olhar pra trás é ver uma transformação: a sua própria. Daquela pessoa das nossas primeiras lembranças para esta, impensada.

As coisas, lugares e pessoas que eu amei, os sentimentos, os sonhos, as sensações todas... os desejos... foi como entrar num casulo. Tudo mudou, se transformou... até aquelas coisas que ainda parecem se manter, estão diferentes. Mais intensas, mais tímidas, mais transparentes...

Mais uma alusão às minhas borboletas...
A minha liberdade está nas asas coloridas delas.