sexta-feira, 2 de julho de 2010

Pandora

E da última vez que nos encontramos, guardei mais a lembrança do teu olhar que das tuas poucas palavras...

De tudo, o mais nítido em minha memória é o que te ouvi dizer, pouco antes de nos despedirmos. Você me disse:
“Teu sorriso é tão intenso, tão cheio de luz e vida. A tua alegria faz tanto sentido! É como se fosse natural ser feliz, tanto quanto respirar. Eu fico sem saber o que fazer com a minha angústia e meus sofrimentos! Quando eu to do teu lado, eu só quero rir contigo e ser feliz também. E não quero que o tempo passe.”

Pra onde vão nossos medos nessas horas? Nossas fraquezas e aflições? Nossos problemas? Nessas horas em que o espírito está tão pleno que parece que desaprende o sofrer, o lastimar.
Mas às vezes meu riso some também...

Às vezes minha felicidade se perde em qualquer lugar que eu não encontro!! Como as chaves da porta, na hora em que vamos sair de casa. É nessas horas que eu encontro as minhas dores. Eu fico cara a cara com elas e, desarmada, eu choro. Eu olho bem no fundo dos meus próprios olhos, refletidos num espelho qualquer, e encaro que sofrer é do ser humano, assim como sorrir.

Eu tenho as minhas caixas:
eu tenho uma caixa cheia de pedras e uma caixa cheia de sonhos.
Quem poderia acreditar que a de sonhos pesa bem mais!!

Tenho um monte de palavras não ditas – ainda –, esperando a sua chance de voar.

Esperando... esperança. Tempo.

Essas duas coisas que dependem uma da outra. Essas duas coisas que me animam e deprimem. Uma que se projeta distante, outra que marca o instante do agora. Uma que é plástica e maleável, outra rígida e inalterável. Uma desconstruível. Outra, sedimentada.

Alguma vez me disseram que pensar demais faz mal. E eu simplesmente não consigo parar.
Sou uma folha de papel em branco: qualquer primeiro traço me dá possibilidades.

E se é possível, porque não desenhar um riso ao invés de uma lágrima?
Se me vem um pensamento, porque não procurar nele a felicidade, possível em cada coisa?

Dá alegria pro teu tempo. Põe cor e graça nos teus dias, mas nas pequenas coisas. Naquelas bem simples. E modela tua esperança, teus sonhos, em torno dos teus minutos mais felizes.

Simples assim. Essencial assim. Natural assim.
Como respirar.

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